domingo, 1 de maio de 2011

Líbia invadida

Tudo ou nada por Contardo Calligaris

As potências interventoras na Líbia têm interesses escusos e motivações duvidosas. E daí?

Ninguém tem simpatia por Gaddafi, e todos concordamos: se a intervenção da Otan não tivesse protegido a cidade de Benghazi, as milícias do ditador líbio teriam perpetrado um massacre.
Por isso mesmo, desde que a Otan começou sua intervenção (cujo êxito ainda está incerto), as vozes de dissenso não discutem o mérito da ação; "apenas" levantam dúvidas sobre as intenções dos interventores: quais são seus "reais" motivos? Suspeitas levantadas:
1) As potências interventoras obedecem a interesses escusos: é o petróleo; é a cobiça neocolonialista; para algumas, é a proximidade de eleições domésticas e a necessidade de ganhar a simpatia da direita antiárabe.
2) Quando elas invocam grandes princípios, as potências estão mentindo. Prova disso: por que elas intervêm na Líbia e não em outros países que sofrem sob ditaduras tão ferrenhas quanto? Aparentemente, quando se trata de ditadores que são cúmplices ou aliados, as potências se esquecem facilmente de seus nobres ideais, não é?
3) Ao escolherem seus alvos, as potências se orientam, antes de mais nada, pela facilidade das operações. Gaddafi não tem amigos a fim de entrar em guerra para defendê-lo. Além disso, o deserto da Líbia facilita o bombardeio aéreo seletivo, e a proximidade com a Europa faz com que seja possível intervir a partir de bases da própria Otan, sem pedir a ajuda ou a autorização de ninguém. Se a Líbia estivesse no meio do continente africano e fosse coberta de florestas e montanhas, provavelmente, as potências fechariam os olhos, como de fato os fecharam no caso de Ruanda.
Pois bem, concordo com todas essas "suspeitas" e com mais algumas, mas pergunto: e daí?
Ao longo da história, muitas das melhores ideias avançaram graças a ajudas e alianças duvidosas. O ideal democrático e republicano apareceu e prosperou na guerra de independência dos Estados Unidos, exitosa graças também à ajuda da França de Luís 16, o qual certamente não simpatizava com os revolucionários e queria apenas dificultar a vida dos ingleses.
Alguns maldizentes contam, aliás, que a ajuda se deveu sobretudo a um caso entre a rainha Maria Antonieta e Thomas Jefferson, embaixador dos EUA em Paris. Pouco importa, o curioso é que tanto Luís 16 quanto sua rainha foram atropelados pelas ideias a cujo triunfo eles contribuíram.
O princípio de autodeterminação dos povos se afirmou na Europa do século 19. Ora, você acha que Napoleão 3º ajudou o Piemonte a formar a Itália porque acreditava nos ideais de independência nacional e vontade popular ou porque queria enfraquecer o Império Austro-Húngaro e também curtia a ideia de ganhar a Saboia e um pedaço de Liguria em troca pela sua ajuda?
Mais uma: a partir de 1920, mundo afora, as lutas sociais foram sustentadas pelo apoio econômico da União Soviética (note-se que o declínio das esquerdas europeias desde os anos 1990 coincide com o fim desse apoio).
Nada contra isso, os avanços obtidos foram preciosos, e eu adorava as edições gratuitas de Marx em capa dura, impressas em Moscou, assim como as férias pagas nos cursos intensivos para militantes na Iugoslávia. Mas, cá entre nós, você acha que a intervenção soviética era a pura expressão da nobre solidariedade internacional-socialista?
Em suma, as dúvidas levantadas quanto às intenções de potências interventoras não me escandalizam. Ao contrário, elas me levam a constatar a extraordinária e inquietante sedução que exerce, entre nós, o argumento do tudo ou nada.
Pelo argumento do tudo ou nada, uma ação só tem legitimidade moral se sua motivação for perfeitamente pura, sem mistura alguma com interesses e cálculos "oportunistas". Corolário: a pureza das intenções seria por si só garantia indiscutível de legitimidade moral. E essa é uma ideia que me dá calafrios.
"Omnia munda mundis", diz a epístola de Paulo a Tito: tudo é puro para os puros, ou seja (é fácil desenvolver), para quem age com intenções puras tudo é permitido, pois, para ele, tudo é moral.
Os impuros são minha turma: mesmo em seus piores momentos, são sensíveis à contradição, pois lidam sempre com a complexidade atrapalhada de suas próprias intenções e com a falta de legitimidade de seus atos. Enquanto os puros... Pois é, tente conversar com os puros.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Filed Under (GEOPOLÍTICA) by Prof Marcos Francioly
O Brasil foi eleito nesta quinta-feira (15) para uma das dez cadeiras provisórias (sem poder de veto) do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A indicação vale para os anos de 2010 e 2011. Gabão, Líbano, Bósnia e Nigéria também foram escolhidos.
O Brasil teve respaldo de 182 dos 190 países-membros que participaram da votação. Sete se abstiveram, e um votou na Venezuela, que nem mesmo era candidata.
No biênio 2010-11, o conselho também estará formado por: Áustria, Japão, México, Turquia e Uganda (que cumprem mandato até fim de 2010), além dos cinco membros permanentes (China, França, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia).
É a décima vez que o Brasil ocupa um assento eletivo no Conselho e a segunda no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Ministério de Relações Exteriores, o Brasil foi membro do conselho nos seguintes períodos: 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99 e 2004-05.
O país aspira a uma vaga permanente. A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, disse acreditar que a conquista de um acento rotativo pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU deixa o País mais perto da tão aspirada vaga permanente no Conselho.
“Nossa atuação pode contribuir para a percepção de que a presença do Brasil no Conselho contribuiria para que ele seja visto como mais eficaz, mais legítimo e representativo”, Viotti.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse também nesta quinta-feira, que para a Organização das Nações Unidas (ONU) voltar ser respeitada, é preciso ampliar as vagas permanentes de países membros do Conselho de Segurança.
O presidente usou uma metáfora para mostrar a situação do atual Conselho de Segurança da ONU, comparando-o a uma fruta madura. “Eu estou convencido de que esse negócio do conselho permanente da ONU está igual a uma fruta madura. Quer dizer, ela já está passando do ponto, daqui a pouco ela cai, e se os dirigentes da ONU, sobretudo os países que mandam no conselho, não aceitarem a reforma eles serão responsáveis pela fragilidade da ONU”, afirmou.